sexta-feira, 29 de janeiro de 2016

A Cartografia para a Geografia e a representação do cotidiano.

Atlas geográfico - fonte:www.editorarideel.com.br



     A Cartografia é a ciência que trata dos estudos e operações tanto científicas e técnicas, quanto artísticas, relacionadas à elaboração e utilização das cartas (ou mapas) de acordo com determinados sistemas de projeção e uma determinada escala. O saber cartográfico e suas técnicas estão intensamente incorporados ao nosso cotidiano que às vezes nem nos damos conta que os utilizamos para diversos fins ao longo do dia. Quando assistimos ao jornal para saber com a moça do tempo se o dia será "de chuva ou sol"; quando recorremos aos sites de localização de endereços, ou o GPS do carro para descobrir a localização dum restaurante. Há ainda quem utilize esse sistema para localizar pessoas; ao fazer num pedaço de papel, rabiscos, pontos, setas e desenhos para mostrar a um amigo como chegar a um endereço, também  estamos utilizando noções de cartografia. Através desses exemplos, podemos observar que a cartografia não está restrita aos  atlas escolares utilizados nas aulas de geografia do colégio.




Mapa babilônico Ga-Sur - fonte:iadrn.blogspot.com
       Autores como Erwin Raisz (Raisz, 1969), indicam que a história dos mapas é tão antiga como a própria história da humanidade, sendo que essa forma de representação gráfica é, até mesmo, anterior ao surgimento da própria linguagem escrita. Segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), o mapa mais antigo já encontrado tem mais de 4.500 anos. Ele teria sido feito pelos povos babilônicos por volta do ano 2.500 a.C. Confeccionado sobre uma placa de argila cozida. Os mapas tiveram diversas funções ao longo da história da humanidade. Para os habitantes primitivos das Ilhas Marshall (Ilhas Marshall é um país da Oceania formado por mais de mil ilhas no Oceano Pacífico. Os atóis de Bikini e Eneuetak foram palco de testes nucleares estadunidenses, fato que fez das Ilhas Marshall a região de maior contaminação radioativa do mundo. -Descrição tirada do site Brasil escola) os mapas tinham como principal função orientar na navegação; os Astecas o utilizavam na representação de acontecimentos históricos; No antigo Egito os mapas eram utilizados para a demarcação e a taxação das terras; Na antiga China os mapas eram utilizados como forma de controle do poder imperial.



     O Mapa não é vazio de ideologias. Ele sempre traz embutido uma concepção de mundo, um ponto de vista, a opinião de quem o fez. Nas palavras do geografo Fernand Joly:

Ásia, Europa e América do Norte no quadrante sul do mapa - fonte:blogdoenem.com.br




"... o mapa não é neutro. Ele transmite uma certa visão do planeta, inscreve-se num certo sistema de conhecimento e propõe uma certa imagem do mundo ..."



É importante entender que os mapas  são envolvidos pelo contexto social e político dos indivíduos que o constroem. Assim como as suas interpretações. 



     A geografia utiliza a cartografia como instrumento para o estudo e a descrição da distribuição dos fenômenos geográficos. Os geógrafos se utilizam das técnicas aerofotogramétricas, do sensoriamento remoto, da informática, etc. O domínio da técnica de construção e utilização dos documentos cartográficos é muito importante como meio de expressão da cientificidade geográfica. Permitindo um melhor estudo e compreensão do espaço geográfico.



As dicas de leitura para quem quiser se aprofundar mais nesse tema são: A dissertação de mestrado do professor mestre  Lindon Fonseca Matias, " POR UMA CARTOGRAFIA GEOGRÁFICA - UMA ANÁLISE DA REPRESENTAÇÃO GRÁFICA NA GEOGRAFIA "; e a apostila: NOÇÕES BÁSICAS DE CARTOGRAFIA confeccionada pelo IBGE.


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Que tipo de aula é a sua? O ensino geográfico em sala de aula.


               estudante estressado - fonte:www.renatoalves.com.br

Como ensinar geografia sem cair nos lugares comuns da "decoreba" de nomes de países, capitais, fatos históricos etc?






Ainda me lembro das aulas de geografia no ensino fundamental II em escola pública.



Resultado de imagem para professor seu madruga escrevendo no quadro
Seu madruga ensinando - fonte:lounge.obviousmag.org


- Professora entra em sala com um livro grosso em mãos, alunos apreensivos.

- Se põe em frente ao quadro negro e começa a escrever: matéria de prova. Rio São Francisco e todos os seus afluentes tanto da margem esquerda quanto da direita, Alunos em pânico total!!




Vale a pena lembrar que o "velho Chico" passa por Minas Gerais, Bahia, Pernambuco, Sergipe e Alagoas, e é alimentado por 168 afluentes!!

Será que você conseguiria adivinhar o que caiu na prova?

Bingo!!

Por quais estados passa o rio São Francisco? Cite oito afluentes do "Velho Chico" sendo quatro da margem direita e outros quatro da esquerda. 

Caso lamentável, mas essa metodologia de ensino ainda é muito presente no nosso sistema de ensino público e privado.


Reflexão - fonte:pt.slideshare.net
   Para que o ensino seja efetivado sem  recair nos lugares comuns da "decoreba", onde o aluno não compreende o que está sendo ensinado, e para passar de ano tenta decorar o conteúdo. É preciso uma reavaliação das práticas e metodologias pedagógicas utilizadas pelos profissionais da educação. Se faz necessário investir em práticas inovadoras, objetivas, criativas e que valorizem o trabalho coletivo. Contudo, para que essa prática pedagógica seja de fato transformadora e efetiva, é indispensável que o professor reflita sobre os seus princípios, concepções e valores como ser humano. E responda para si mesmo: Como vejo meu aluno? como me posiciono diante das experiências que a vida lhe proporciona? O que penso do papel e da posição que ele ocupa no mundo? Qual o significado do conteúdo que apresento para ele? Como conciliar o que vou ensinar com o que o aluno já sabe ou venha a aprender? Educar para transformação, para o consumismo ou para a autonomia de pensamento e atitudes?

       O aluno ao entra na escola traz consigo conhecimentos prévios formados por suas experiências diárias junto a seus familiares e amigos, ou ainda através do seu contato com os meios de comunicação como a televisão, rádio, internet e outros. Tais conceitos nem sempre expressam a realidade, podendo ser uma opinião sobre o assunto.

      O professor precisar se utilizar desse conhecimento prévio do aluno, para assim, facilitar a compreensão das exposições teóricas de conteúdos; incentivar a participação ativa dos alunos em sala de aula e a socialização de experiências e ideias em aula; construir o que Paulo Freire chama de ambiente de dialogicidade, onde o aluno é livre para agir e refletir sobre a ação pedagógica realizada.


resumo - fonte:slideplayer.com.br
  Cavalcanti (2005)com base em Vygotsky,  propõe um ensino de geografia que considere a internalização dos conteúdos como um processo de reconstrução interna, intrassubjetiva, de uma operação externa com objetos que o homem entra em interação. Com isso ela afirma que para se alcançar uma aprendizagem significativa, é preciso que o conteúdo que é interpessoal se torne intrapessoal. Propõem um ensino que faça relação com o cotidiano do aluno. 





aula em formato roda de cultura - fonte:www.escoladegente.org.br
 A adaptação do ambiente escolar é importante, já que os alunos inicialmente sentem-se constrangidos em expressar suas ideias. Por isso, o professor deve conquistá-los deixando-os livres para se expressar e nunca lhe respondendo que sua participação ou ideia está errada (mesmo que esteja), pois isso pode inibi-los e ele não participará em outras ocasiões, como também inibirá seus colegas que não participarão com suas idéias por medo de errar.

       O educador deve instigar o aluno a mostrar o que já sabe, procurando identificar o que ainda precisa saber. A avaliação da aprendizagem precisa ser um processo contínuo, diagnóstico, dialético, integrante e integrador das relações de ensino e aprendizagem. Onde o erro deve ser compreendido como diagnóstico para compreender e agir sobre o conhecimento, e desse ponto repensar metodologias, didáticas, atitudes e práticas pedagógicas. E o acerto, sinal de possibilidades de superação dos saberes apropriados para novos conhecimentos.





       As dicas de leitura sobre o tema abordado são: O artigo publicado no congresso da Unimonte (Universidade Estadual de Montes Claros) pela professora Fernanda Cristina Rodrigues de Souza, RELAÇÃO ENTRE O ENSINO DA GEOGRAFIA E O COTIDIANO DOS ALUNOS DAS SÉRIES FINAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL DA ESCOLA ESTADUAL JOSÉ NATALINO BOAVENTURA LEITE, PIRAPORA (MG). e o Artigo da professora doutora Lana Souza Cavalcanti, COTIDIANO, MEDIAÇÃO PEDAGÓGICA E FORMAÇÃO DE CONCEITOS: UMA CONTRIBUIÇÃO DE VYGOTSKY AO ENSINO DE GEOGRAFIA.







      O objetivo deste blog é suscitar o debate e enriquecer a discussão sobre a ciência geografia em seus diversos aspectos que se relaciona ao cotidiano. Participe enviando comentários e questionamentos.



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Geografia: A Ciência da Complexidade

 simbolos da geografia
Símbolos da geografia - fonte:profalana.blogspot.com 
        

     Muita gente pensa que a geografia é um conjunto de informações didáticas sobre mapas, países, rios, cidades, capitais, Estados, entre outros. Há ainda quem pense que por ser uma disciplina integrante do currículo escolar em todos os sistemas de ensino, ela deve ser vista como ciência " decorativa", ou seja, é preciso decorar os nomes e conteúdos. Veremos hoje que o conhecimento geográfico vai muito além disso.

     A Geografia é muito complexa e abrangente, pois seu campo de estudo envolve inúmeros assuntos humanos e naturais que estão em constante dinamismo. Para compreender melhor o que é a ciência geográfica, é ideal entendermos primeiramente o que é o pensamento complexo.


dirigindo
pessoa dirigindo - fonte:http://www.medodirigir.org/
     Para visualizar o que é o pensamento complexo. imagine que você está na auto escola e o seu último teste para obter a carteira de motorista é dirigir um carro de câmbio manual numa avenida hiper movimentada. Pense nos diversos movimentos sincronizados para dirigir: ligar o carro, passar marcha, olhar no retrovisor, acelerar, dar ré, frear, olhar a sinalização etc. Agora acrescente o seu instrutor falando, as buzinas dos carros, as placas de trânsito, o flanelinha jogando água com sabão no seu para-brisa, o guarda de trânsito etc.


característica do pensamento complexo -fonte:slideplayer.com.br
     O pensamento complexo aborda dentro do mesmo assunto um "leque" enorme de ideias que relacionam-se, complementam-se, divergem-se. Segundo Edgar Morin (2001: p.429,432;433) "O pensamento complexo parte dos fenômenos simultaneamente complementares, concorrentes, antagônicos, respeita as coerências diversas que se associam em dialógicas ou polilógicas e, por isso, enfrenta a contradição por vias lógicas. O pensamento complexo é o pensamento que quer pensar em conjunto as realidades dialógicas/polilógicas entrelaçadas juntas (complexos)" O pensamento complexo abandona a ideia de controle e dominância absoluta sobre o objeto em estudo. Ele faz oposição ao pensamento da simplificação que " opera por redução ( do complexo ao simples), rejeição (da eventualidade, da desordem, do singular, do individual), disjunção (entre os objetos e o seu ambiente, entre sujeito e objeto)". Morin ( 2001 apud Souza, 2008).


A Geografia, atualmente, é considerada a ciência que estuda o espaço geográfico, ou seja, busca compreender a dinâmica do espaço produzido e transformado direta ou indiretamente pelo ser humano. Estuda a sociedade e a natureza, com o foco sobre a maneira com que essas se relacionam e o consequente processo de organização do espaço terrestre. Entretanto, Não é o objeto de estudo que a diferencia dos demais saberes científicos. O que confere ao estudo geográfico a sua especificidade é o conjunto de conceitos que vão definir a orientação de seus estudos, dos quais se destacam: a paisagem, a região, o território, o lugar e as redes. Ela utiliza uma abordagem horizontal (comutativa com as outras ciências), complexa ( abarca diversas variáveis) e interdisciplinar.

protesto contra a falta de saúde e escola - fonte:www.livreimprensa.com.br

           A ciência geográfica possibilita às pessoas entender o mundo e relacionar os diversos acontecimentos com seu cotidiano. Ela contribui com a formação do cidadão crítico, capaz de refletir e de emitir opiniões sobre uma ampla variedade de assuntos, possibilitando uma "leitura de mundo" mais complexa.


    As dicas de leitura sobre esse assunto são : A Inteligência da Complexidade, por Edgar Morin e o artigo do Professor Dr. do Instituto de Geografia da UFU ( Universidade Federal de Uberlândia) Vicente de Paulo da Silva, Nas Trilhas da Pesquisa: O Mais Importante É Saber “Por que?”





E, para finalizar, eu adoraria saber a sua opinião sobre esse artigo.

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Entrando no Campo da Investigação Psicogeográfica












Mapa psicogeográfico feito por uma ciclista - fonte: bicicultural.com


Basta falar em infância que nos vem a memória saudosas recordações: a casa da vovó, a pracinha da esquina onde jogávamos bola com os amigos, a escola etc. Ou uma vida dura, árdua de quem ainda criança teve que trabalhar, ou recebeu maus tratos e falta de amor. Ao interagir com o meio ambiente e a sociedade em que vivemos, vamos construindo imagens mentais carregadas de sentimentos e emoções que montam em nosso cérebro mapas mentais.

Numa manhã em que estava com disposição extra, chamei um amigo para corremos na orla da praia do Recreio dos Bandeirantes. Ele disse que iria, senão fosse na orla, pois ele sofreu um assalto por lá. Vale aqui dizer que esse fato ocorreu há três anos!! Mas o cérebro dele mapeou aquele lugar como perigoso e ameaçador. Segundo especialistas em neurociências, o cérebro não é muito bom em distinguir o real do que é ilusório. Ele tende a produzir no corpo as mesmas reações em ambos os casos. Infelizmente, a mídia está cheia de disseminadores de boatos, potenciais construtores de lugares perigosos e inimigos. O estudo no campo psicogeográfico tem por objetivo analisar como os fenômenos que ocorrem no meio geográfico, conscientemente planejados ou não, agem sobre o comportamento afetivo das pessoas.




Em charge sobre goleada alemã, jogador brasileiro vende armas e cocaína. fonte: Veja São Paulo. 


Você se lembrar dessa charge "Triunfo e tragédia" criada pelo artista alemão Arno Funke que rodou o mundo através das mídias? A impressão que passa, é um Brasil que apesar de ter belas paisagens naturais, é cheio de traficantes de armas e drogas, pivetes, assaltantes e prostitutas. Será enganosa a visão do artista? Nós brasileiros sabemos que não.


O tráfico de drogas e armas não é algo exclusivo do Brasil, existe em todo o mundo. Segundo o professor doutor do departamento de História da Universidade de São Paulo, Osvaldo Coggiola, a Colômbia detém o controle da maior parte do tráfico internacional de drogas (a pequena parte restante é dividida entre a máfia siciliana e a Yakuza japonesa); De acordo com a ONG americana Social Progress Imperative, os três países a encabeçar o ranking dos países inseguros são Iraque, Nigéria e Venezuela. O Brasil aparece em 11° colocado (Ranking dos países inseguros); é estimado que a Tailândia receba 15 milhões de estrangeiros a cada ano, três vezes mais que o Brasil. Consoante a matéria publicada pela jornalista Natália Becattini, Seis a cada dez turistas são homens, muitos deles em busca de sexo fácil e barato tanto nas praias quanto na capital, Bangkok. Ao analisar os fatos, nos vem a cabeça algumas perguntas: que imagem psicogeográfica o artista alemão quis construir com essa charge? E por quê? afinal de contas, já perdemos a ingenuidade de achar que a arte é apolítica. Será por causa do grande destaque do Brasil na mídia internacional atualmente? e por que destacar pontos negativos, justamente nesse momento histórico, ao invés de por em relevância toda a nossa abundante riqueza cultural e ambiental?

Esse campo de pesquisa é muito vasto e promissor. Vale a pena ler o artigo publicado pelo Doutor em Geologia Toni T. Eerola que fez pesquisa de campo sobre o uso da psicogeografia no ensino de geociências no espaço construído. E ler também o artigo do advogado criminalista Felipe Lazzari da Silveira sobre a cultura do medo e sua contribuição para a proliferação da criminalidade.